Seu Esmelindro
Aquele ali se aquentando
que parace estar dormindo
é o velho Seu Esmelindro
que ao pé do fogo se esconde,
quando lhe falam, responde
mas senão vive calado
olhar triste entrecerrado
perdido lá não sei donde.
É desses indios de estância
que ninguém conhece o drama
tem só os arreios pra cama
e um poncho velho que o cobre
e embora nunca se dobre
nem ao guascasso mais duro
pouco lhe importa o futuro
pois já nasceu pra ser pobre.
Conhece de tudo um pouco
trança, laça, gineteia
não fala da vida alheia
nem se mete em discussão
e já ao primeiro clarão
a estrela Dalva saindo
encontra o Velho Esmelindro
de pé batendo tição.
É quem recolhe os cavalos
bem antes que o dia venha
puxa água, corta lenha
pras xinocas da cozinha
é quem cuida de galinha
e dá quirera pra pinto
sabe tudo por instinto
e o que não sabe, adivinha.
Surgiu um dia na estância
ao tranco dum baio ruano
e ficou passou-se um ano
foi ficando até ficar
e, ao fim de tanto penar
só tem, além da existência
este fogo onde se aquenta
e este galpão que ´e seu lar.
A ninguém diz de onde veio
nem tão pouco pra onde vai
não tem mãe, não teve pai
que lhe acolherasse um nome
e, à medida que se some
no tremedal da amargura
vai vendo que, sem ternura
as almas morrem de fome.
Por isso que, ao pé do fogo
cabisbaixo e silencioso
vive a pensar no repouso
da cruz do campo sozinha
quando ali, de tardezinha
o vento for repetindo:
dorme aqui um tal de Esmelindro
que nem sobrenome tinha.
Um comentário:
Oi Décio,vc é um cursista poeta? quero muito que você aproveite o conhecimento que está adquirindo com o curso e compartilhe com seus alunos, sabe que pode contar com a gente sempre que precisar!!! Sucesso,Sirlei
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