terça-feira, 19 de agosto de 2008

Seu Esmelindro


Aquele ali se aquentando

que parace estar dormindo

é o velho Seu Esmelindro

que ao pé do fogo se esconde,

quando lhe falam, responde

mas senão vive calado

olhar triste entrecerrado

perdido lá não sei donde.


É desses indios de estância

que ninguém conhece o drama

tem só os arreios pra cama

e um poncho velho que o cobre

e embora nunca se dobre

nem ao guascasso mais duro

pouco lhe importa o futuro

pois já nasceu pra ser pobre.


Conhece de tudo um pouco

trança, laça, gineteia

não fala da vida alheia

nem se mete em discussão

e já ao primeiro clarão

a estrela Dalva saindo

encontra o Velho Esmelindro

de pé batendo tição.


É quem recolhe os cavalos

bem antes que o dia venha

puxa água, corta lenha

pras xinocas da cozinha

é quem cuida de galinha

e dá quirera pra pinto

sabe tudo por instinto

e o que não sabe, adivinha.


Surgiu um dia na estância

ao tranco dum baio ruano

e ficou passou-se um ano

foi ficando até ficar

e, ao fim de tanto penar

só tem, além da existência

este fogo onde se aquenta

e este galpão que ´e seu lar.


A ninguém diz de onde veio

nem tão pouco pra onde vai

não tem mãe, não teve pai

que lhe acolherasse um nome

e, à medida que se some

no tremedal da amargura

vai vendo que, sem ternura

as almas morrem de fome.


Por isso que, ao pé do fogo

cabisbaixo e silencioso

vive a pensar no repouso

da cruz do campo sozinha

quando ali, de tardezinha

o vento for repetindo:

dorme aqui um tal de Esmelindro

que nem sobrenome tinha.




Um comentário:

Sirlei disse...

Oi Décio,vc é um cursista poeta? quero muito que você aproveite o conhecimento que está adquirindo com o curso e compartilhe com seus alunos, sabe que pode contar com a gente sempre que precisar!!! Sucesso,Sirlei