domingo, 31 de agosto de 2008
Hoje, em Zero Hora:
Recentes estudos colocam a mais tradicional bebida do Rio Grande do Sul no centro de uma polêmica científica. Um estudo elaborado por um gastroenterologista gaúcho em parceria com o Instituto Nacional do Câncer dos EUA, publicado este ano, deixou um pouco mais amargo o chimarrão ao detectar uma substância relacionada ao câncer em infusões preparadas com erva de oito marcas encontradas no mercado.
Enquanto os apreciadores do mate deparam com essa constatação dura de engolir, uma pesquisa do Instituto de Cardiologia colhe dados sobre possíveis benefícios do produto para o sistema circulatório. Há vários anos, o consumo de chimarrão vem sendo relacionado a índices mais elevados de câncer no esôfago no Rio Grande do Sul, em comparação com o resto do país devido à temperatura elevada da água com que é preparado. O estudo do gastroenterologista Renato Fagundes e de colegas norte-americanos atestou a presença da substância cancerígena benzopireno na bebida em um artigo publicado no mês de maio na revista especializada Cancer Epidemiology Biomarkers & Prevention, da Associação Americana para a Pesquisa de Câncer.
Quase ao mesmo tempo, o Instituto de Cardiologia selecionava voluntários para apurar os benefícios que a presença de substâncias conhecidas como flavonóides pode trazer aos participantes das rodas de chimarrão. Até o final do ano, as autoras da pesquisa esperam verificar se, de fato, o mate é capaz de reduzir o colesterol e proteger o coração dos gaúchos – abalado pelas dúvidas lançadas sobre sua bebida predileta.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Seu Esmelindro
Aquele ali se aquentando
que parace estar dormindo
é o velho Seu Esmelindro
que ao pé do fogo se esconde,
quando lhe falam, responde
mas senão vive calado
olhar triste entrecerrado
perdido lá não sei donde.
É desses indios de estância
que ninguém conhece o drama
tem só os arreios pra cama
e um poncho velho que o cobre
e embora nunca se dobre
nem ao guascasso mais duro
pouco lhe importa o futuro
pois já nasceu pra ser pobre.
Conhece de tudo um pouco
trança, laça, gineteia
não fala da vida alheia
nem se mete em discussão
e já ao primeiro clarão
a estrela Dalva saindo
encontra o Velho Esmelindro
de pé batendo tição.
É quem recolhe os cavalos
bem antes que o dia venha
puxa água, corta lenha
pras xinocas da cozinha
é quem cuida de galinha
e dá quirera pra pinto
sabe tudo por instinto
e o que não sabe, adivinha.
Surgiu um dia na estância
ao tranco dum baio ruano
e ficou passou-se um ano
foi ficando até ficar
e, ao fim de tanto penar
só tem, além da existência
este fogo onde se aquenta
e este galpão que ´e seu lar.
A ninguém diz de onde veio
nem tão pouco pra onde vai
não tem mãe, não teve pai
que lhe acolherasse um nome
e, à medida que se some
no tremedal da amargura
vai vendo que, sem ternura
as almas morrem de fome.
Por isso que, ao pé do fogo
cabisbaixo e silencioso
vive a pensar no repouso
da cruz do campo sozinha
quando ali, de tardezinha
o vento for repetindo:
dorme aqui um tal de Esmelindro
que nem sobrenome tinha.